Jornada do Herói
Neste artigo abordaremos a mitologia medieval de Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda com conceitos de Junguiano.
Hoje eu vou contar pra vocês quais são os passos dessa jornada.
Alguns buscam as aventuras da Mitologia Grega, as lendas do rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, e alguns se voltam para literatura do início do século passado, epresentada principalmente por J. R. R. Tolkien, em O Senhor dos Anéis, e C. S. Lewis, em As Crônicas de Nárnia
Em 1949, o estudioso norte-americano Joseph Campbell publicou o livro O Herói de Mil Faces, no qual introduziu o termo monomito, ou “jornada do herói”. A “jornada” que Riordan e Leeming apresentam aos seus leitores fora explicada então de forma esquemática, que mostra que continuamos a nos identificar com esses heróis porque eles são, até certo ponto, parecidos.
O monomito está dividido em três partes: a partida, a iniciação e o retorno; estas partes estão subdivididas em doze estágios. Porta
Outro exemplo clássico de mito que segue a estrutura da Jornada do Herói é a lenda do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Aqui está um resumo dos principais estágios da jornada do Rei Arthur:
Mundo Comum: Arthur começa sua jornada como um jovem plebeu, sem saber de sua linhagem real, até que ele retira a espada Excalibur da pedra, revelando seu destino como rei.
Chamado à Aventura: O chamado de Arthur surge quando ele é proclamado rei após o feito de retirar Excalibur da pedra, assumindo seu papel de liderança.
Recusa do Chamado: Arthur inicialmente reluta em aceitar seu papel como rei, mas eventualmente aceita, guiado por Merlin, seu mentor e conselheiro.
Encontro com o Mentor: Merlin, o mago sábio, orienta Arthur e o aconselha ao longo de sua jornada, ajudando-o a se tornar um rei justo e sábio.
Travessia do Primeiro Limiar: Arthur une a Bretanha dividida sob seu governo, formando a Távola Redonda com seus cavaleiros, simbolizando a entrada em um novo estado de poder e responsabilidade.
Testes, Aliados e Inimigos: Arthur enfrenta numerosos desafios, como a busca pelo Santo Graal, combates contra inimigos como Morgana Le Fay e Mordred, e alianças com cavaleiros como Lancelot e Galahad.
Aproximação da Caverna Profunda: Arthur se prepara para o confronto final contra seu próprio filho, Mordred, e o desafio de manter a unidade e a paz em Camelot.
Provação Suprema: A batalha final entre Arthur e Mordred ocorre, resultando na morte de ambos e no fim da era dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Recompensa: Apesar da tragédia, Arthur é levado para a Ilha de Avalon, onde se cura de suas feridas e é prometido um retorno futuro para trazer a paz novamente à Bretanha.
Caminho de Volta: A lenda de Arthur continua a viver através das histórias de Camelot e dos Cavaleiros da Távola Redonda, inspirando futuras gerações.
Ressurreição do Herói: Arthur simbolicamente vive através das histórias e mitos, sua jornada de reinar e seu destino de um dia retornar para restaurar a paz.
Regresso com o Elixir (Pedra Filosofal): O legado de Arthur como um rei nobre e um líder corajoso permanece como um exemplo de virtude e justiça.
A lenda do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda é um exemplo clássico de como a Jornada do Herói pode ser aplicada em um contexto medieval de mitologia e contos épicos, destacando a jornada pessoal e espiritual do herói em seu papel de liderança e sacrifício pelo bem maior.
Assim sendo, podemos notar que a aventura do herói nada mais é do que o processo de individuação; conceito central da teoria junguiana e que representa a própria finalidade da vida; um processo de profundo autoconhecimento, no qual nos confrontamos com velhos medos e conteúdos que desconhecemos de nós próprios. Ao nos entregarmos a esse caminho nada racional, Jung considera que a vida parecerá ser magicamente conduzida por uma sabedoria maior a qual denominou Self (Si - mesmo); o centro de cada um de nós. Individuar-se significa fazer o ego (a consciência da superfície) ir ao encontro desse centro. Representa separar-se da massa; do turbilhão inconsciente e adquirir autonomia; tornando-se assim, uma totalidade psicológica, sem divisões internas, atingindo a personalidade total e a realização pessoal. (Romagolli, 2023)
Nessa perspectiva, o processo de individuação se mostra como a base da nossa existência. Em algum momento a psique chama o ego a voltar-se para si (o chamado para aventura do qual Campbell nos fala), a conhecer-se, a vasculhar no interior as verdades até então buscadas fora. A partir daí novos horizontes se abrem para a realização pessoal, entretanto, se o ego se recusa a tal autoconscientização (recusa o chamado para aventura), a vida tende a se encaminhar a um conflito insustentável; podendo derivar daí certas doenças, fracassos e até mesmo a morte
Jung sugeria que os mitos contêm arquétipos universais, imagens e padrões simbólicos que refletem aspectos fundamentais da psique humana. No mito do Rei Arthur, encontramos arquétipos como o herói (Arthur), o mentor sábio (Merlin), a figura materna e sedutora (Morgana Le Fay), entre outros. Cada um desses arquétipos representa forças psicológicas básicas que todos os indivíduos enfrentam em sua jornada de crescimento e autoconhecimento.
Também escreveu o processo de individuação como o desenvolvimento do self único e completo de um indivíduo. Arthur, ao descobrir sua verdadeira identidade como rei e líder, simboliza o início desse processo de individuação. Ele passa por desafios significativos e crises pessoais, como a guerra, traições e a busca pelo Santo Graal, que o levam a integrar partes de si mesmo e a assumir plenamente seu papel como líder e figura paterna para seus cavaleiros e para o reino.
A busca pelo Santo Graal na narrativa de Arthur representa não apenas uma busca física por um objeto sagrado, mas também uma jornada espiritual e transcendente em direção à iluminação e à conexão com o divino. Esse aspecto da narrativa sugere que a maturidade não é apenas um processo psicológico, mas também espiritual, envolvendo uma compreensão mais profunda do significado da vida e do propósito pessoal.
Referências: https://www.unicesumar.edu.br/epcc-2009/wp-content/uploads/sites/77/2016/07/vinicius_romagnolli_rodrigues_gomes2.pdf